Tamanho do Texto:
A+
A-

Há 100 anos chegaram os primeiros Freis Franciscanos Capuchinhos

14/01/2020 - 20h22
“Da Sereníssima eles chegaram, cordão, sandália, Evangelho nas mãos! Com prontidão deram sim ao chamado, vidas entregues, amor à Missão! (Hino Oficial do Centenário, por Frei Sidney Damásio Machado, OFMCap)

A história dos Capuchinhos em terras paranaenses deve ser dividida em dois momentos:

  • O primeiro, compreende o período do Segundo Império e início da República, que teve como marca o trabalho com os indígenas aldeados na região da Colônia Militar do Jataí e o aldeamento São Pedro de Alcântara, nos anos de 1854 à 1895, aproximadamente; 
  • O segundo momento, objeto das comemorações do Centenário da Missão Capuchinha de Vêneto, ocorreu a partir do ano de 1920, em que a Província Capuchinha de Veneza, na Itália, iniciou sua Missão no Sul e no Norte do Paraná.

Foram quatro freis vênetos, vindos da cidade de Veneza, antiga “Serenissima Repubblica di Venezia”, na Itália, que há cem anos deram início a esse importante episódio missionário da história religiosa do Paraná, Santa Catarina e Paraguai, por onde se estende atualmente a Província Capuchinha São Lourenço de Brindes.

Até 1892, O Paraná e Santa Catarina, eram subordinados à Sé Metropolitana do Rio de Janeiro, quando então foi criada a Diocese de Curitiba. Após o bispado de Dom José Camargo de Barros e Dom Duarte Leopoldo e Silva, em 1908, tomou posse da Diocese de Curitiba, como seu novo Bispo, Dom João Francisco Braga. No mês de maio de 1919, Dom João Francisco Braga, em visita ao Papa Bento XV, em Roma, solicitou missionários para contribuir no processo de evangelização da Diocese de Curitiba, pois fazia-se urgente o acompanhamento dos milhares de imigrantes que haviam recentemente chegado ao Estado.

Os imigrantes, em sua maioria formada pelos italianos, começaram a imigrar para o Paraná, a partir de 1875, originários, principalmente de Vêneto, de cidades como Veneza, Padova e Verona e trouxeram na bagagem a língua vêneta. Em terras distantes, naquela época, comunicar-se no Brasil era complicado, tanto que o vêneto falado no Brasil, aos poucos foi se diferenciando do vêneto falado na Itália, dando origem ao termo Talian, que é uma variação da língua vêneta com o português.

Em 1900, viviam no estado do Paraná mais de trinta mil italianos, espalhados por catorze colônias etnicamente italianas e outras vinte mistas. Essa realidade fazia com que o processo de evangelização buscasse se adaptar a esse enorme contingente de italianos, que ocupava os estados do Paraná e Santa Catarina.

Dom João Francisco Braga, se encontrou em Roma com Frei Lucas de Pádua, pregador apostólico, que recomendou a Dom João que procurasse o Ministro Provincial de Veneza, Frei Serafim de Údine para solicitar os missionários para a Diocese.

Antes de se encontrar com Frei Serafim de Údine, Dom João se encontra com o Ministro Geral dos Capuchinhos, Frei Venâncio de Lisle-em-Rigault, que se incumbiu de encaminhar ao Ministro Provincial de Veneza uma carta.

Este importante documento de Roma, datado de 07 de abril de 1919, foi a semente lançada em solo fértil, que veio a dar origem a essa Missão Centenária comemorada pelos Capuchinhos.

Frei Venâncio de Lisle-em-Rigault, de forma muito solicita, enaltece as boas intenções de Dom João Francisco Braga, dizendo que, no momento, o Bispo se contentaria com quatro sacerdotes e que, muito se contentaria se Província Vêneta aceitasse o compromisso com o Brasil.

Destacou que o Estado do Paraná, era um campo muitíssimo aberto ao empenho dos sacerdotes Capuchinhos e, portanto, teria um futuro esplêndido para a Província de Veneza, que encontraria naquela Missão o endereço para os próprios alunos da Ordem que estivessem desejosos de trabalhar na mística vinha do Senhor.

Houve um termo de convênio (Convenzione fra) firmado com a Província de Veneza e a Diocese de Curitiba, em que o Bispo Dom João Braga e seus sucessores aceitariam que os Capuchinhos da Província de Veneza formassem conventos, comunidade religiosa e capitulassem novos frades para a diocese e se comprometeriam em assumir e formar paróquias, obedecendo o Código de Direito Canônico e de estarem sujeitos às leis da Ordem e sob supervisão dos próprios superiores regulares.

Pouco tempo depois, aos 11 de setembro de 1919, os quatro primeiros missionários receberam o Crucifixo Missionário na Igreja Santíssimo Redentor, em Veneza, Itália, entregue pelo Ministro Provincial, Frei Serafim de Údine, enviando-os em Missão às terras paranaenses e catarinenses.

Conforme as condições de viagem da época, seguiram para o Brasil, juntamente com Dom João Francisco Braga, no imponente navio italiano “Principessa Mafalda”, que saiu do Porto de Gênova, na Itália, em direção ao Rio de Janeiro, no dia 17 de setembro de 1919.

Após 18 dias, cruzando o Oceano Atlântico, chegaram ao porto da cidade do Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro de 1919, ficando hospedados com os confrades Capuchinhos da Província Italiana de Messina. De acordo com os relatos de Frei Ricardo de Vescovana, a permanência de três meses no Rio de Janeiro oportunizou aos freis o conhecimento da cultura e o início do aprendizado da língua portuguesa.

Em 17 de dezembro de 1919, viajaram para São Paulo, de onde receberam oficialmente a ordem do Bispo Dom João Braga para iniciar as Missões no Paraná. O desafio no Brasil para os primeiros freis, não foi apenas cultural, mas muito mais do que isso. Os Capuchinhos Vênetos eram homens de convento, sem a experiência pastoral de formação de Paróquias, que a realidade brasileira estava exigindo, mas como estavam cheios de boa vontade e confiantes na Providência Divina, após esses 100 anos, constatamos que os desafios foram brilhantemente vencidos.

É na data de 20 de janeiro de 1920, que os quatro primeiros missionários Capuchinhos chegam definitivamente, ao Paraná, entrando para a História da Província São Lourenço de Brindes, os freis: Frei Ricardo de Vescovana, Superior Regular da Missão, Frei Angélico de Ênego, Frei Teófilo de Thiene e Frei Maximiliano de Ênego, a quem, de imediato, foram destinadas várias paróquias, em Cerro Azul, Tomazina e Colônia Mineira (atual município de Siqueira Campos).

O território de Missão abrangia uma região de 350 km de comprimento e 100 km de largura, totalizando uma área de 3.500 km². Estava dividida em duas regiões: a primeira ao Sul no Vale do Ribeira e a segunda ao Norte do Paraná.

A Missão dos Capuchinhos só poderia crescer com novas paróquias que vieram rapidamente a assumir nos municípios de: Jaguariaíva, Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, São Roque do Pinhal e Cambará, todos situados no Norte Pioneiro do Paraná.

Jaguariaiva se tornou a primeira sede da Missão, onde foi erigida canonicamente a casa religiosa, aos 22 de julho de 1922, para residência do Superior Regular. A igreja que fora construída em 1870, era dedicada ao Ecce Homo (Bom Jesus da Pedra Fria), sendo considerada, desde o começo por todos os missionários, como a “Porciúncula Missionária”. Pela sua importância histórica para o Paraná, em 1988 foi tombada pelo Patrimônio Cultural. Mais tarde, os Freis construíram a Igreja São Francisco de Assis e a escola paroquial, em Jaguariaíva.

Cerro Azul foi o primeiro campo missionário dos freis, junto à Paróquia dedicada à Nossa Senhora da Guia, erigida em 1872 e confiada aos capuchinhos em 1920. Anos mais tarde, foram construídas uma escola elementar e um hospital, favorecido pela abertura da estrada que interligava Jaguariaíva a Cerro Azul, dando forte impulso à cidade.

O segundo grupo italiano, com quatro freis Vênetos, vieram para o Brasil em 1920, chegando em Jaguaríaiva em 02 de setembro de 1920: Frei Donato de Valleggio, Frei Juliano de Fonzazzo, Frei Bentivoglio de Treviso e Frei Gotardo de Mondelebotte.

Aos 23 de novembro de 1923, foi iniciada a construção do primeiro convento no bairro das Mercês, em Curitiba-PR, onde também foi instalado o primeiro seminário, que vem a ser inaugurado em 1925 e passa a ser a sede oficial dos missionários Capuchinhos, contando com a benção do Ministro Geral Padre José Antonio de S. Giovanni in Persiceto que realizou a primeira visita canônica à Missão.

Sob a regência de Dom Francisco Braga e graças a seus esforços, aos 10 de maio de 1926, a Diocese de Curitiba foi elevada à Província Eclesiástica do Paraná, tornando assim Arquidiocese, pela Bula “QUUM IN DIES”, do Papa Pio XI. Nesta mesma bula são criadas as dioceses de Paranaguá, Jacarezinho e a Prelazia de Foz do Iguaçu e a Diocese de Ponta Grossa. A Igreja das Mercês, inaugurada no dia 29 de setembro de 1929, veio a solidificar a devoção à Nossa Senhora das Mercês.

Destaca-se a criação do Seminário de Butiatuba, no município de Almirante Tamandaré, em 5 de janeiro de 1935 e o início da presença Capuchinha no estado de Santa Catarina, em 1936, assumindo o trabalho pastoral na paróquia de Rio Capinzal, além da abertura de um seminário menor em Barra Fria (hoje Lacerdópolis), em 1941.

O período de 1920 até 1937 é conhecido como o tempo de Missão, quando os oito primeiros grupos missionários, no total de 22 freis, lançaram as bases do ministério apostólico no Paraná e Santa Catarina e a formação de vocações locais, a Missão de Veneza, chamada de Província-mãe, foi elevada a Custódia Provincial em 30 de abril de 1937. No tempo da Custódia Provincial, no início de 1953, foi inaugurado o Seminário Santa Maria, em Engenheiro Gutierrez-PR.

E assim, após a Missão da Província-mãe Veneza, nas terras do Paraná e Santa Catarina, a missão transforma-se em Custódia e eleva-se a nível de Comissariado Provincial, de 1957 a 1968, até que, a atuação dos freis Capuchinhos do Paraná e Santa Catarina cresceram o suficiente, que foram declarados como grupo autônomo da Ordem Capuchinha, formando a Província Regular da Ordem Capuchinha, que tem como patrono São Lourenço de Brindes.

Autores: Jacira Aparecida de Campos Ramos e Renê Wagner Ramos

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Kleber Moresco (Fraternidade Nossa Senhora das Mercês)

Deixar um comentário