Cheguei ao Mosteiro domingo dia 05.06.2016. O retiro teve início na segunda feira, com término programado para o sábado. Domingo, dia 12, foi de convivência fraterna. Procurei trabalhar temas ligados a Francisco e Clara e o Ano Santo da Misericórdia. Irmã Giuliane disse para eu escolher os temas. Não me deu pista alguma.
O dia delas começava um pouco mais cedo que o meu. Eu começava a rezar com elas às 6h e 20 min. Concluíamos o ofício das leituras, rezávamos as laudes; eu presidia a Missa e em seguida a primeira hora média. Às 8h tomávamos o café, em silêncio, sempre com um fundo musical no ambiente. Após o café eu fazia a exposição para a oração do dia, tempo de 1hora, aproximadamente. Elas eram participativas, não com palavras, mas com gestos. Percebia-se quando as palavras questionavam, alegravam, doíam; elas não escondiam. Digo que encontrei um terreno muito fértil. Lancei as sementes, as vi germinar, crescer e frutificar. Exageros à parte, mas foi a minha intuição.
O almoço também era feito em silêncio, ao som de músicas gregorianas (CD do Mosteiro da Ressurreição da cidade de Ponta Grossa). À tarde nos reuníamos às 17h para uma breve leitura orante com textos da Ressurreição; para a partilha; oração das vésperas; e reza do terço. Rezávamos o terço caminhando. Durante o jantar que acontecia às 19h, conversávamos, partilhávamos a vida e sempre ríamos bastante. Elas rezavam em comunidade às 14h e 30 min, como também as completas.
As partilhas delas foram edificantes para mim. Muita espontaneidade e transparência. Elas vivenciaram momentos lindos de profunda oração e consolação, descobertas, renovações. Algumas, por várias vezes disseram: “hoje eu fiquei o dia inteiro refletindo sobre a frase que o frei disse”, ou numa frase bíblica, ou ainda numa frase do texto disponibilizado. O dia todo elas refletiam com profundidade uma frase, e tiravam dela coisas novas e velhas. Na partilha expressavam com tranquilidade os sentimentos. Ao final da partilha delas, eu apenas partilhava a minha oração naquele dia, a minha experiência também. Isto foi ressaltado na avaliação.
E para mim, o que ficou? Ficou a constatação que, de fato, o sagrado passa pelo feminino. O feminino é interioridade, o masculino é exterioridade. Francisco chegou às profundezas porque o feminino, Clara, esteve sempre presente em sua vida. Assim, ficou a certeza de que, para conhecer Francisco é preciso também conhecer Clara; e para conhecer Clara, é muito importante e imprescindível viver um espaço de tempo adquirindo e trocando experiências com as Clarissas. De minha parte posso afirmar que foi uma convivência intensa, profunda, uma experiência de kairós. Os dias no Mosteiro foram muito diferentes dos outros. Faltam-me palavras para expressar a beleza e a gratidão a Deus por esses dias de retiro.Tive a graça de estar inteiro em cada momento, desligado do passado e sem preocupação com o futuro.
Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB
Por Frei Carlos Roberto Gozzi (Fraternidade São José Operário)