Marcas
Teus passos no chão,
teus pés no chão,
tornando fértil
cada caminho, cada coração.
Não toco teus olhos, tua boca,
toco as marcas deixadas
aquelas em ti, e aquelas por ti.
Meus olhos no chão
percebem o peso que carregas.
Meus pés afundam no chão.
Teu fardo é pesado,
e os meus pés pisaram em vão.
Meus olhos em tuas mãos.
absorveste-me, ao me tirar do chão
engoliam-me as marcas de compaixão.
Desviaste teu caminhar, voltaste.
Eu vejo teus passos no chão,
apenas para me levantar,
não entendo tal decisão.
Eu procurei, quis, desejei;
nada me veio por acaso,
aquilo que procurava, eu encontrei.
Meu lugar é no pó, no chão
êxito meu Deus, em compreender a razão.
Não depende do meu merecimento,
depende da tua decisão.
A muito tempo não tenho coragem,
a muito tempo persigo uma miragem.
Ó doce ilusão, senti o que perdi
quando já estava no chão.
O golpe fatal, é o que mereço;
aceito tua mão, dos sonhos esqueço.
Ergues meu rosto, de medo estremeço
vejo olhos que não conheço.
Por que me mostras o mundo
dentro, em teus olhos, estão meus sonhos.
Aquele que aceitava o castigo profundo
agora redescobre o amor.
Teus passos no chão,
teus olhos em mim,
tuas mãos sustentando
meu corpo e coração.
Já não estou sozinho
teus passos no chão,
teus passos em mim
são seguidos por multidão.
Teus olhos em mim
calaram a inquietação,
minha boca fechada
não explica a razão.
Minhas mãos em tuas mãos
os buracos em que caí,
resgataram-me os buracos de paixão.
Teus olhos em mim:
em mim medo,
em mim escuridão,
em mim pecado,
em mim solidão.
“Não olhe pro chão,
Olhe pra mim!”.
Te empresto minha visão,
oportunidade de perdão.
Olhe pra mim,
não olhe pro chão.
Que a marca do meu
lado, bata em dois
corpos o mesmo coração.
O teu pecado, colhido
por minhas mãos,
atravessa e se perde
a ele não prendo atenção.
Os tropeços dos teus pés...
A queda, a dúvida, a indecisão,
Firmai teus olhos em mim.
Com coração confiante
deixe pra trás a distração.
Meus pés em tuas marcas,
minhas mãos afundadas nas tuas,
meus olhos mergulhados,
oceano sem fim.
“Não olhe pro chão,
olhes pra mim!”.