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Marcas

Publicado por Frei Kleber Moresco | 03/10/2018 - 08:22

Teus passos no chão,

teus pés no chão,

tornando fértil

cada caminho, cada coração.

 

Não toco teus olhos, tua boca,

toco as marcas deixadas

aquelas em ti, e aquelas por ti.

 

Meus olhos no chão

percebem o peso que carregas.

Meus pés afundam no chão.

Teu fardo é pesado,

e os meus pés pisaram em vão.

 

Meus olhos em tuas mãos.

absorveste-me, ao me tirar do chão

engoliam-me as marcas de compaixão.

 

Desviaste teu caminhar, voltaste.

Eu vejo teus passos no chão,

apenas para me levantar,

não entendo tal decisão.

 

Eu procurei, quis, desejei;

nada me veio por acaso,

aquilo que procurava, eu encontrei.

 

Meu lugar é no pó, no chão

êxito meu Deus, em compreender a razão.

Não depende do meu merecimento,

depende da tua decisão.

 

A muito tempo não tenho coragem,

a muito tempo persigo uma miragem.

Ó doce ilusão, senti o que perdi

quando já estava no chão.

 

O golpe fatal, é o que mereço;

aceito tua mão, dos sonhos esqueço.

Ergues meu rosto, de medo estremeço

vejo olhos que não conheço.

 

Por que me mostras o mundo

dentro, em teus olhos, estão meus sonhos.

Aquele que aceitava o castigo profundo

agora redescobre o amor.

 

Teus passos no chão,

teus olhos em mim,

tuas mãos sustentando

meu corpo e coração.

 

Já não estou sozinho

teus passos no chão,

teus passos em mim

são seguidos por multidão.

 

Teus olhos em mim

calaram a inquietação,

minha boca fechada

não explica a razão.

 

Minhas mãos em tuas mãos

os buracos em que caí,

resgataram-me os buracos de paixão.

 

Teus olhos em mim:

em mim medo,

em mim escuridão,

em mim pecado,

em mim solidão.

 

“Não olhe pro chão,

Olhe pra mim!”.

 

Te empresto minha visão,

oportunidade de perdão.

Olhe pra mim,

não olhe pro chão.

 

Que a marca do meu

lado, bata em dois

corpos o mesmo coração.

 

O teu pecado, colhido

por minhas mãos,

atravessa e se perde

a ele não prendo atenção.

 

Os tropeços dos teus pés...

A queda, a dúvida, a indecisão,

Firmai teus olhos em mim.

Com coração confiante

deixe pra trás a distração.

 

Meus pés em tuas marcas,

minhas mãos afundadas nas tuas,

meus olhos mergulhados,

oceano sem fim.

 

“Não olhe pro chão,

olhes pra mim!”.

Sobre o autor
Frei Kleber Moresco

Frei Capuchinho da Provincia do Paraná e de Santa Catarina

([email protected])