Gralha descolorida
No sitio do Serelepe
existem árvores e lagoa.
As aves e animais chegam
para curtir o sol e ficar à toa.
Coelhos, pacas, cotias, tatus,
marrecas, patos e garças,
pombas, periquitos e sabiás,
na chegada fazem aquela farsa!
Não falta bando de gralhas.
São barulhentas e coloridas.
Entre elas existe a descontente
que é chamada “Descolorida”.
Suas penas são duras, sem cor.
Ela lamenta a sua triste sorte
de ter nascido tão feia assim.
A sua vaidade é sempre forte.
Naquele dia o seu orgulho subiu
e foi elevando-se cada vez mais.
Chegou a pedir uma pena colorida
às colegas e até para seus pais.
As colegas ficaram com dó.
Deram-lhe a pena solicitada.
Não sabiam o que planejou
a descolorida e pobre coitada.
Talvez ela iria brincar com as penas,
ou olhá-las, estudá-las e as admirar.
Quem sabe a sua casa iria enfeitar,
e o seu Criador bendizer e louvar.
A surpresa de todas foi quando
ela em público apareceu,
toda enfeitada com as penas
bonitas, coloridas que recebeu.
Isso não seria nada se ela
não exibisse vaidade infinita
e não diminuísse as colegas
dizendo ser ela a mais bonita!
O ciúme de todas as gralhas
subiu na cabeça e cresceu.
A superiora convocou reunião.
Queria falar e expor o plano seu.
A decisão da reunião foi dura:
- Queremos nossa pena de volta.
Chamaram a descolorida e ali a
superiora intimou com voz solta:
- Peço que devolva a nossa pena!
É ordem! Comece se desfazer!
Embora contra sua vontade a
Descolorida preferiu obedecer.
Arrancou uma pena e a deu para
a superiora, depois foi devolvendo
para as outras, até a última delas.
Humilhada assim, ela foi sofrendo.
Triste mesmo foi ao arrancar
as penas para dá-las de volta,
arrancava também as próprias,
pois ficavam moles e caiam soltas.
Ao terminar a dolorosa devolução,
a descolorida ficou envergonhada.
Parecia um frango depenado.
Da sua vaidade não ficou nada.
A beleza externa não diz nada,
quando lá dentro o amor é pobre.
Nem cor ou beleza é importante.
O que vale é ter um coração nobre.
Não é com o chapéu alheio
que devemos fazer bonito.
Deus nos deu seus dons para
praticarmos obras de valor infinito.
A descolorida sofreu muito
pela sua feiúra e falta de cor.
As colegas não a entenderam.
Nem a entenderam na sua dor.
Por mais ciúme que ela tivesse,
não fez aquilo com má intenção.
Nem que fosse por pouco tempo,
queria ser bonita e de estimação.
Foi aí que foi mal entendida.
Interpretaram sua reta intenção,
como desprezo e pouco caso,
caindo na intimação e devolução.