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Gralha descolorida

Publicado por Frei Ivo Bonamigo | 16/11/2018 - 21:17

No sitio do Serelepe

existem árvores e lagoa.

As aves e animais chegam

para curtir o sol e ficar à toa.

 

Coelhos, pacas, cotias, tatus,

marrecas, patos e garças,

pombas, periquitos e sabiás,

na chegada fazem aquela farsa!

 

Não falta bando de gralhas.

São barulhentas e coloridas.

Entre elas existe a descontente

que é chamada “Descolorida”.

 

Suas penas são duras, sem cor.

Ela lamenta a sua triste sorte

de ter nascido tão feia assim.

A sua vaidade é sempre forte.

 

Naquele dia o seu orgulho subiu

e foi elevando-se cada vez mais.

Chegou a pedir uma pena colorida

às colegas e até para seus pais.

 

As colegas ficaram com dó.

Deram-lhe a pena solicitada.

Não sabiam o que planejou

a descolorida e pobre coitada.

 

Talvez ela iria brincar com as penas,

ou olhá-las, estudá-las e as admirar.

Quem sabe a sua casa iria enfeitar,

e o seu Criador bendizer e louvar.

 

A surpresa de todas foi quando

ela em público apareceu,

toda enfeitada com as penas

bonitas, coloridas que recebeu.

 

Isso não seria nada se ela

não exibisse vaidade infinita

e não diminuísse as colegas

dizendo ser ela a mais bonita!

 

O ciúme de todas as gralhas

subiu na cabeça e cresceu.

A superiora convocou reunião.

Queria falar e expor o plano seu.

 

A decisão da reunião foi dura:

- Queremos nossa pena de volta.

Chamaram a descolorida e ali a

superiora intimou com voz solta:

 

- Peço que devolva a nossa pena!

É ordem! Comece se desfazer!

Embora contra sua vontade a

Descolorida preferiu obedecer.

 

Arrancou uma pena e a deu para

a superiora, depois foi devolvendo

para as outras, até a última delas.

Humilhada assim, ela foi sofrendo.

 

Triste mesmo foi ao arrancar

as penas para dá-las de volta,

arrancava também as próprias,

pois ficavam moles e caiam soltas.

 

Ao terminar a dolorosa devolução,

a descolorida ficou envergonhada.

Parecia um frango depenado.

Da sua vaidade não ficou nada.

 

A beleza externa não diz nada,

quando lá dentro o amor é pobre.

Nem cor ou beleza é importante.

O que vale é ter um coração nobre.

 

Não é com o chapéu alheio

que devemos fazer bonito.

Deus nos deu seus dons para

praticarmos obras de valor infinito.

 

A descolorida sofreu muito

pela sua feiúra e falta de cor.

As colegas não a entenderam.

Nem a entenderam na sua dor.

 

Por mais ciúme que ela tivesse,

não fez aquilo com má intenção.

Nem que fosse por pouco tempo,

queria ser bonita e de estimação.

 

Foi aí que foi mal entendida.

Interpretaram sua reta intenção,

como desprezo e pouco caso,

caindo na intimação e devolução.

Sobre o autor
Frei Ivo Bonamigo

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