Gatinho
Ganhei um gatinho preto,
bonito, mimoso, meu Pelé.
Criou-se no meio dos cães.
Brincava e mordia o pé.
Crescido, Pelé acompanhava
o frei na Igreja e na oração,
no trabalho e no escritório,
nas bênçãos e na refeição.
Pelé chegava ao escritório,
subia na mesa de escrever,
ficava olhando o que fazia
e batia a pata para o atender.
Na oração ficava calado.
Sentava perto sem se mexer.
Prestava atenção na oração.
Só saía quando íamos comer.
Na hora certa de se alimentar,
ia para seu lugar de refeição.
Esperava o prato de comida,
também sobremesa de ração.
Quando virava terra na horta,
ficava perto deitado olhando.
Não havia rato na nossa casa.
Ficava atento sempre vigiando.
Naquele dia o frei celebrava
brilhante e solene casamento.
Nosso Pelé entrou na Igreja,
bem na hora do juramento.
Pelo tapete com toda calma
entrou Pelé solenemente.
Chegou perto do celebrante.
Sentou-se e olhava docemente.
Houve quem falou alto:
- Azar, gato preto, azar!
O celebrante acalmou dizendo:
- O gato Pelé veio abençoar!
A cor não quer dizer nada!
Pelé é manso, veio rezar!
Ele o faz sempre com os freis.
Boa sorte é que veio desejar!
Os presentes se acalmaram.
E o casamento foi completado.
Ficaram contentes com o Pelé,
que aí estava despreocupado.
Pelé foi gato amigo de todos.
Com todos aceitava brincadeira.
Quem o chamasse de Pelé,
ele o atendia da sua maneira.
A nossa casa ficava ali perto
do prédio açougue central.
Todos os dias havia cachorros
rodeando também a paroquial.
O dono cansado de tocá-los,
apelou para a comida de rato.
Pelé meteu-se no meio dos cães,
comeu a isca e lambeu o prato.
Assim morreu o gato Pelé.
Em casa não lhe faltava alimento.
A gula foi a causa da desgraça
que levou Pelé para o sepultamento.