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A vida do venerável frei Angélico Lipani

05/09/2019 - 10h03
Frei Angélico é fundador das Irmãs Franciscanas do Senhor

No dia 18 de junho de 2019, os Cardeais e Bispos, durante a Sessão Ordinária da Congregação para as Causas dos Santos, reconheceram que o Servo de Deus Frei Angélico Lipani (1842-1920) viveu de maneira heroica as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), cardeais (fortaleza, justiça, prudência, temperança) e as de seu estado de consagrado (pobreza, castidade e obediência). Em 6 de julho de 2019, o Papa Francisco autorizou a Congregação paras as Causas dos Santos a promulgar o relativo Decreto super virtutibus. Agora, para a sua beatificação, é necessário apresentar um fato "extraordinário/miraculoso" obtido por intercessão do Venerável Servo de Deus.
O Servo de Deus nasceu em Caltanissetta (Itália), em 28 de dezembro de 1842. No mesmo dia, foi batizado com o nome de Vincenzo, quinto filho da numerosa família do casal Salvatore e Calogera Raitano. Vincenzo, voltado à piedade, manifestou o desejo de se tornar religioso, mas os pais não se mostraram favoráveis, preferindo vê-lo como sacerdote diocesano, para tê-lo em família, pois o irmão Pietro, já sacerdote, tinha falecido muito jovem. Vincenzo permaneceu firme em sua decisão e os seus pais consentiram com a sua opção. Aos 19 anos, em 23 de outubro de 1861, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap) de Caccamo (Palermo) recebendo o nome de Frei Angélico.
Concluído o ano de noviciado, em 24 de outubro de 1862 foi admitido à profissão e transferido a Palermo para os estudos filosóficos e teológicos. Em 23 de outubro de 1865, emitiu a profissão perpétua e, em 3 de dezembro sucessivo, recebeu a ordenação presbiteral, permanecendo em Palermo para concluir os estudos de teologia.
Com a entrada em vigor da lei de supressão dos Institutos religiosos, leis supressoras de 7 de julho de 1866 e de 15 de agosto de 1867, o jovem presbítero teve que depor o hábito religioso e deixar o convento. Vestiu então a veste talar de padre diocesano e se pôs à obediência do Bispo de Caltanissetta, Dom Giovanni Battista Guttadauro (†1896). Obtida a faculdade de pregador, em 1868, o Servo de Deus começou também a se ocupar da assistência espiritual da Terceira Ordem Franciscana, hoje conhecida como Ordem Franciscana Secular (OFS).

Em 1874, o Bispo conferia-lhe o encargo de professor de Gramática latina no seminário diocesano. Um ministério que o viu fiel por 25 anos, educando uma numerosa fileira de futuros presbíteros. Além de docente no Seminário e formador dos jovens candidatos diocesanos, já a partir de 1872 Dom Giovanni Battista Guttadauro o nomeara Reitor de uma pequena igreja, então degradada e despojada, na periferia de Caltanissetta, dedicada ao Santíssimo Crucifixo, e denominada Senhor da Cidade, que logo se tornou centro de um intenso movimento de espiritualidade. Aqui, com a ajuda da Terceira Ordem Franciscana, relançava a devoção ao Santíssimo Crucifixo e promovia a coleta do Pão dos pobres.
Com estas primeiras iniciativas, Frei Angélico se inseria profundamente seja na vida espiritual, seja naquela caritativo-social de Caltanissetta, mas Deus o chamava a algo mais desafiador. A cidade foi assolada por lutos e tragédias familiares, devido aos desabamentos nas minas de enxofre, em 1881 em Gessolungo e em 1882 em Tumminelli. As vítimas, exclusivamente homens, deixaram muitas famílias em situação difícil. Para aliviar os lutos e a miséria, ao lado da igreja do Senhor da Cidade, em setembro de 1883, o Servo de Deus adquirira algumas casas, reformando-as desde os fundamentos, para hospedar as filhas dos mineiros mortos nos desastres.
Nos primeiros dias de outubro de 1884, 12 órfãs, ajudadas por duas colaboradoras, encontraram uma casa. Um ano depois, as duas colaboradoras se tornarão Ir. Giuseppina Ruvolo e Ir. Grazia Pedano, que, vestindo hábito cinza, um véu preto e o cordão franciscano, consagravam-se ao Senhor lançando as bases do Instituto das Irmãs Franciscanas do Senhor da Cidade. Era o dia 15 de outubro de 1885. Seguindo a intuição do conselho do Servo de Deus, a Congregação, em 4 de outubro de 1899, recebeu o Atestado de aprovação assinado por Dom Ignazio Zuccaro, Bispo de Caltanissetta. Em 30 de agosto de 1960, a Santa Sé emitirá o decreto de aprovação pontifícia da Congregação, denominada Irmãs Franciscanas do Senhor.
O Servo de Deus foi também promotor da editoria católica, com a publicação, a partir de dezembro de 1879, do informativo mensal Svegliarino dei Terziari Francescani, compilação de outras revistas franciscanas da época com o acréscimo de seus artigos, voltados a reforçar a caridade fraterna entre os membros da Terceira Ordem e a promover a ação social em favor dos pobres.
Concomitantemente à ação caritativo-social voltada às órfãs, o Servo de Deus se prestou a encontrar uma nova sede para os confrades capuchinhos. A primeira pedra do novo convento, o terceiro construído em Caltanissetta, será lançada em 20 de novembro de 1888. A construção, contudo, foi muito lenta, de modo que a vida dos capuchinhos nessa localidade será retomada somente em 4 de outubro de 1904, quando os primeiros frades, entre os quais também o Servo de Deus, retomavam a vida comum após as tempestades das supressões.
Em 29 de julho de 1911, Frei Angélico, dado que seu estado de saúde estava muito precário e pelas dificuldades concretas de uma assistência no convento, pediu ao Ministro Provincial para residir na casa paterna. Atendido seu pedido, desde 1912 até o dia da morte, em 9 de julho de 1920, o Servo de Deus, assistido pelas suas irmãs Damiana e Teresa, continuou a fazer apostolado, a ajudar quantos lhe pediam um conselho e a guiar com prudência o Instituto por ele fundado.
Sem meios, sem clamores, sem anúncios, ofereceu sua mão e tudo o que tinha a quem sofria ou estava na indigência. Para o Servo de Deus, a ajuda, material ou espiritual ao pobre, tinha sua fonte naquela comunhão evangélica que, sozinha, levava a identificar as urgências concretas pondo em prática um serviço de caridade e colocando-se à disposição como ministro de Deus para dispensar a misericórdia e o pão da vida.

A caridade, portanto, brotada e alimentada da fé no Christus patiens, Senhor e Redentor, revelado e suplicado na pequena Igreja do Santíssimo Crucifixo Senhor da Cidade, não podia senão dilatar-se naquelas audazes iniciativas que marcaram o ministério pastoral do sacerdote capuchinho Angélico Lipani.

Fonte: Adaptado do texto original do site da Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos: ofmcap.org

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Frei Douglas Leandro de Oliveira (Cúria MG)

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